terça-feira, 20 de novembro de 2012

POETIZA

Ainda poetizo minhas mágoas, minhas lágrimas Poetizo a vida. Tento poetizar as pessoas (Confesso que este é o mais difícil) As pessoas andam cada vez menos inspiradoras A não ser quando me causam mágoas A não ser quando derramam minhas lágrimas Aí sim poetizo Ainda poetizo meus desejos Poetizo as vontades Até meus pesadelos Poetizo meu pingente quando quero usá-lo e ele some Poetizo quando o encontro E sobretudo quando me perco Poetizo o poema e todos os poetas E todas suas mágoas Regadas com todas suas águas salgadas. Poetizo a pedra que estava no meu caminho E as palmeiras onde cantam os sabiás Poetizo, por que não, minha terra - passárgada! Poetizo lá que é meu lugar Poetizo até aqui onde os encontrei Poetizo até aqui Onde me perdi

Coração Perdido

Perdi o meu coração! Ele deve ter escorregado pela lateral da gaveta quando fui guarda-lo. Perdi meu coração! Queria guarda-lo, protege-lo, mas o perdi. Devo ter deixado cair quando virei à esquina da sua casa. Sou tão desastrada! Devia tê-lo dado a alguém para guarda-lo pra mim. Mas a quem? Entregar o coração a qualquer um pode ser um desastre. Entreguei um pouco a todos! Sim todos tiveram um pouco, mas sempre o recolhi. Não está entre minhas roupas, nem entre as joias. Na gaveta de calcinhas tão pouco. Guardei tão bem guardado que o perdi. É... Eu perdi meu coração. Bom... Antes um coração perdido que um coração partido. As rachaduras num coração partido não negam as ruas por que andaram. Antes um coração partido, que ao menos te pertence e a alguém (quem quer que seja) já pertenceu? Não... Não sei... Sei que tenho um coração perdido, talvez agora partido. Um coração que se partiu, partiu e se perdeu. Ou se perdeu e se partiu. Eu perdi meu coração... Não me lembro, mas talvez tenha sido quando esbarrei com você ainda hoje. Ah, tão pouco importa. Alguém o achará, ou não. Eu não sei onde... Mas sei que tenho um coração. Um coração perdido.

sábado, 19 de maio de 2012

Memórias do Esquecido

Esquecido estava em todos os lugares. Nas ruas, nas festas, nas portas dos bares Esquecido conhecia e reconhecia todo mundo. Sabia nome, identidade e profissão sobretudo. Lembrava das datas e dos locais Dançava as música e cantava as tais Esquecido lembrava a cor do cadarço do rapaz Que andava de skate por ipanema Sabia os gostos, os talentos, os cumprimentos sem entrar em qualquer dilema. Rompia silêncios, soltava piadas, só pra esquecer que prostrava. Esquecido, em tudo, em todos, em detalhes escrotos, atenção prestava Lamentava os momentos em que dançando, os olhos ele fechava. Ah era tão bom reconhecer a tudo e a todos Ninguém, mais que Esquecido lembrava Mas se perdia na lembrança destilada dos tolos Ah Esquecido, de tanto prestar se fez desprovido... Os lembrados por Esquecido Que com tanta memória Perdia apenas o que era preciso A lembrança... De ser meramente Esquecido

Abismo

É como se você achasse que fosse só dar um pequeno pulo por ter uma rachadura no meio caminho. Então numa fração de segundo, quando você está no ar, de repente olha pra baixo e vê um abismo. E não dá pra voltar... Não dá pra pensar duas vezes, você já pulou e não sabe se o impulso que tomou foi o suficiente pra chegar ao outro lado, e não importa o quão suficiente tenha sido o impulso, o vão te puxa e te suga. O vazio é tão grande que toma conta de você, e você se entrega ao abismo. E por alguns semi-instantes, sente a liberdade da queda, e você não sabe quando vai parar de cair, mas sabe que quando chegar lá embaixo o baque vai ser tão grande que não existirá mais você. E você impulsiona o corpo cada vez mais pra frente pra tentar segurar pelo menos na pontinha do outro lado. E na fração da fração de segundos, você percebe como é óbvia sua chegada ao outro lado. E mesmo assim você se assusta, não sabe o que tem do outro lado. É justamente na fração de segundo, a mais longa e duradoura fração de um segundo. E você não sabe se pulou na direção certa, e você não pode cair e você não pode olhar pra trás.

domingo, 25 de março de 2012

Morte viva

Talvez essa urgência de vida
Seja a presença da morte
Morte ausente mais que presente
Falta de vida... Morte
Tensões sem tesões
Sonhos sem concretude
… Morte

Talvez toda essa morte
Seja a presença da vida
Que preenche cada vazio
Com nada
Se tem nada, se tem algo
Se tem algo, se tem vida
Não ter nada se se tem nada
Nada pode ser feito
Porque nada vive
Porque nada morre

Talvez toda essa angústia
Seja a presença da vida
Assustada com a morte
Talvez esse susto seja a morte
Espantada com tanta vida
Repleta de tudo em meio ao nada
Talvez tudo seja mera variação de nada
E pouco seja muito tudo que talvez...

Que talvez nada
Que talvez tudo

Que mudo, a vida grite mais alto
Que surda, a morte ignore tanto som
Que cega, siga a vida a caminho da morte.
Que sem pernas a morte pare na vida
E sem braços, que abracemos tudo que vive
Porque tudo morre.
Porque tudo existe.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O que te transtorna
Transborda
Traduz
Transporta
Trabalha trôpego
Transpira
Tropeça
Transcende
Ascende sem fôlego
Afoga e dispersa
Pira, para, parte
Reparte metade do terço
Que entorna, entorta
Estorna e expõe
E não se importa
Mas transtorna
E não transborda

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Eu peço...

Que meus medos sejam só os meus medos
Que o que me cerca não me assuste
Porque o que me cerca não sou eu.
Eu peço pra que minha vida motive meus sonhos
E que os pesadelos sumam da minha vida.

Eu peço...
Que ao sair de casa minha cabeça me guie
E que minha cabeça seja minha companheira
E que minha companhia seja meu coração
E que meu coração esteja leve
Livre dos pensamentos que rondam minha cabeça

Eu peço...
Que minhas atitudes sejam mais claras
Que minhas razões partam do princípio das minhas atitudes
Que minhas atitudes partam da minha razão

Eu peço...
Que se o que me cerca me interfere
Que me cerque meramente aquilo que eu quero
Que escolhi
Que minhas escolhas motivem meus sonhos
Que meus sonhos guiem meu coração
E que ele esteja leve
Para que minhas razões resultem claras atitudes

Que a claridade seja enxergada mesmo com a luz apagada
E que se apaguem todas as escuridões.